NÓS DOIS CANTANDO SIDNEY MAGAL NA FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO + 3 poemas de Valeska Torres

MIJADA

a rolha explode contra a minha testa
de calcinha bege clara mijo escorre entre as minhas
pernas o liquido amarelo metálico: uma mulher suja.
nas tentativas em segredo, enfio os meus dedos
entre a goela quando eu,
enfiaria entre os lábios da minha buceta se me fosse permitido
gozar, se me fosse permitido …………………………..

uma penca de banana
com granola, arrebenta
o zíper da minha calça quando devoro uma penca de banana com granola,
comendo banana (baixinho para que ninguém ouça minha língua empapada de saliva)

tenho vergonha de ser uma mulher suja e que gosta de comer bananas pelos cantos mastigando baixinho fazendo papa debaixo da língua
não quero que ninguém me veja
que ninguém me ouça

comendo na poltrona puída do caxias x méier
nem que me perguntem porque mijo nas calças quando uma rolha explode contra a minha testa
não quero que vejam meus pêlos debaixo do sovaco que
raspo todososdiastodososdias
raspo os pelos dos meus
sovacos sem nenhum rito
sem nenhuma falha
limpo os pelos feios e sujos da mulher suja que sou

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POMBO MORTO

o tempo com suas grandes mandíbulas esmigalhando a carniça caída feito o pombo morto entre carros na dom hélder câmara

as cutículas sangrando espirrando líquido vermelho tudo é dor dentro as unhas se quebram a cada soco dado nesse punho que é meu desespero essa fala comprida esse wifi torres 123 minha bolsa bege aquela carteira de trabalho rabiscada os seios com estrias brancas e largas são minhas as estrias essa vulnerabilidade o cotovelo
cicatrizado

taquara faça carinho em dias de sol como aquele domingo de galeto pepsi
e transas de compridas horas no quarto o eu rebocado com pasta branca

sinto falta do que foi meu e não será de ninguém não será
não pela morte mas pelos dias que foram nossos ninguém nunca arrancará de mim
o que foi meu não com o tempo com o tempo não tirará de mim o que foi meu
você aquele domingo de pau vermelho com as veias tão minhas

em caso de emergência utilize o martelo 296 me dando crises pânico em abolição quebro os cacos pequenininhos para sair de dentro deles como se saem os espíritos apossando-se das pequenas coisas quebro você no canto nunca meu nem mesmo eu para voltar ao lugar do vaso barro sem flores sem água sem terra

o poema fudido suplica todo ferido para que te deixe atravessar
a rua de longe
te vejo indo

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REBANHO

Seis horas da tarde,
uma porca indo pro abate, uma multidão de porcos.

Uniforme: cinza e azul, bandeira do Brasil, unidade pública de
ensino. Uma porca bem vestida.

Sistema público de ensino e um bando de porcos
pretos tentando aprender
que Jesus tem olhos azuis
é branquelo,
um bronze tem que passar pasta d’água.

Sistema público de ensino de que adianta saber contar,
se no fim do mês não sobra nada
para a porca que trabalha para pagar boletos? Sustentar um lar?

Fim de um dia de trabalho, início de uma noite de
pasto a barriga no fogão
uma espingarda com cano ainda
quente meto a bala na cara do canalha
faço jus ao meu salário.

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NÓS DOIS CANTANDO SIDNEY MAGAL NA FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO
Para Fernando

estação da Penha
desemboco perdida na linha de fuga, percebo
– como se percebem os furos de tatuí na areia de grumari –
o grão de purpurina no fim do carnaval
são quatro por dois isso que inflama o meu peito
não chupo a espinha do peixe,
não como mocotó

sonho em me bronzear sob o sol de ramos
me banhar no piscinão
ao seu lado
com as mãos entrelaçadas nas suas bebendo itaipava

sou mulher de gostos caros, digo a você enquanto
rasga meu sutiã
gasto
por amaciantes

picho na murada do prédio seu nome ❤ meu
para que você saiba o quão merda eu sou
quando apaixonada

meus pais me apontam dedos disseram para não me perder demais
¡perigo águas profundas, correnteza e redemoinho!
é tarde,
depois de meia noite
nossos horários são verões é tarde

estou fudida
porque a foda tem o gosto do meu homem e
disso os meus lábios não cansam

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Valeska Torres é poeta e estudante de biblioteconomia na Unirio. Nasceu no Rio de Janeiro, Marechal Hermes em 1996. Mora em Brás de Pina. É autora do livro “O coice da égua” [Editora 7 Letras, 2019]. Publicou nas coletâneas de poemas, contos e crônicas “Do Rio ao mar” [Turista Aprendiz, 2015], na antologia “Seis temas à procura de um poema” [Flup, 2017], na antologia “Alma – Projeto Identidade” [Editora Conexão 7, 2018]. Tem fanzines publicados no Brasil, Argentina e Paraguai, por diferentes editoras locais e também em revistas digitais. Em 2017, foi selecionada para uma residência no Festival Internacional de Poesia de Rosário, Argentina.

Redes sociais:

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Série de imagens: Nayara Brida

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