amor&escrita
na linha aberta entre teus mamilos
correm minhas mãos trêmulas
te reclamo de paladar cálido:
amanhã tu nem vais te lembrar
escrevi a noite inteira
te descrevi pele&corpo ao analista
quis duvidar
mas mal espero para te ver na segunda
crio indivisíveis alucinações
digo que tu me queres como te quero
faço sair da tua boca
mentirinhas
digo teu nome a amigues que choram de rir
afinal, imaginativas tentações
queria te escrever um poema hermético
como Matilde Campilho
Cesar
ou Drummond
mas só sei ser sincera
no amor&
na escrita.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Red Velvet ou Aquele app de encontros
mal sabia dizer as
cores&sabores de
ontem
assim como descreveste a cidade:
azuzeverde
em um pulo certeiro – quase
incomum porque
a budapeste do Chico
não era amarela
⠀⠀⠀⠀⠀⠀- Era cinza.
que decepção: mas a ti não!
sabias bem descrever a cor de uma cidade
e como fazer
uma mulher ver flashes
azulados
ou
pastéis
em torno de ti.
esta conversa me lembra algo que escreveu
M. António Pina
no pico do verão
ouso dizer:
tu tens cor&sabor
de red velvet
levemente tragado com cigarro
de menta
e uma pitada generosa
de penne com camarão
três pontos fracos
quase premeditados
pelo App ao lado
(algoritmo certeiro):
red velvet
cigarro
penne com camarão
=
você.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Ela me contou enquanto mergulhava
Vim tomar um mergulho
No mar
Buscando te deixar
Nas ondas que
Lambem
Sem qualquer pretensão
As minhas pernas
O sol que incide potente
Nas veias
Laterais do meu corpo
Me explica certeiro:
Nem Iemanjá quer que eu te esqueça.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Interpretação dos sonhos – sem ajuda de Freud
sonhei que uma abelha
me picava
havia ferro fogo e aço escorrendo
pela borda da derme
quase um reflexo do sim para quem
vê de fora
pode vir – como no amor.
quem sabe a metáfora da abelha
seja um aviso
para o terror dos tempos
a fossa da angústia
a automutilação que é
te deixar entrar
te deixar picar &
envenenar
o que sobrou de lucidez
a abelha que deixei que me picasse
na outra noite
enquanto dormia
parecia você.

Micaela Tavares é da ilha de São Luís do Maranhão, graduanda em Direito na UEMA e Pesquisadora voluntária em direitos à comunidade LGBTQIA+. Recentemente publicou poemas nas revistas Quatetê, Variações, Mallamargens, Kuruma’tá e Adiante, além da publicação da Antologia Digital “Nós que aqui estamos – Nordeste” da Editora Arrelique. A publicação do seu primeiro livro “Tenho reparado nos ipês pela cidade” pela Editora Folheando foi lançado em maio de 2021.
Colagens: Helen Kaliski