_BLUEPRINT DE UMA BALA + 1 poema de Johnny Faustino

_BLUEPRINT DE UMA BALA

(uma autobiografia de 27 anos inquietos)

Acordo fazendo
27 anos,
Acordo igual aos 26,
Não há tempo
De ser feliz,
Não dá
Para outros não deu.

Minha vontade:
Sair na rua e tomar um tiro

Bem no peito,
Para ver se paro
A Bala.

Não sou suicida
Mas há uma bala,
Que incomoda.

Sabia que
O fogo-fátuo acendendo no morro
Não são mortos que se levantam
Mas rajadas
Que
Os deitam?

E
Que
Essa Bala,
Que me pegará aqui
(no peito)

Desceu do Realengo,
Partiu uma criança na Maré
Agora
Me atravessa
E vai derrubar
              Um                            japonês…    ?

Essa bala
É engenharia,
Administração

Perfeita,
Advogando
Aerodinâmica
Militar
[não]              Eleita.

Essa bala
É histórica,
Pré-histórica a mim.

Essa bala
Atravessa realidades
Paralelas
– que eu não vivo –
Realidades
Que arquivo.

Essa bala
Anatômica
Perfeita
Antagônica
Perfura o
                   Pêndulo
              Do
Pensamento.

Sua
Trajetória
Não acerta: privilégios,
Gravatas blindadas,
Viagens ao exterior.

Ela crava
Cava
Pequenas favas faveladas
Que estudam para evitar
A bala.

Mas,
Ainda assim,
uniformes
Não veem uniformes.

A bala
É uma só:
A mesma.
Os mortos:
São vários
E diferentes.

São as diferenças
O alvo da
Bala

                          L I N H A Q U E R O M P E

Bala
Atômica
Atônita
Estanca
Coração              coração
Interrompe
Sujeito         sujeito
Rejeito da
Sociedade       só cidade
Marginal
Asfalto
Estende                 sujeito
Sujeitos              entende          ?

O que peço?
FAÇAM MEUS 27 ANOS
                            Tentando parar a bala
E
Vejamos
Quantos corações
ELA
Ainda
Para
.

19 flashback

Tupiniquim, Pindorama – Tempestade Tropical

Epifania é luxo
As pontadas da realidade
Dispersam os sonhos
É a tortura atemporal
Da ditadura branda (branca)
No azul banco
Do palácio central!

A caneta é Bic
(o ópio chic
De pagar de humilde
Enquanto semeia cólera,
Sem requinte)

A caneta é Bic,
Mas tinta de sangue azul
É vermelha
De sangue preto,
Pobre, índio
E viado.

A canetada é chilique
De messias inventado
– o salvador do moderno
Diabo: $

Subverter a ordem
É diluir a desordem
Para não sentirem
O caos em progresso.

No congresso
O consenso
É converter cristão
e “bom cidadão”
em assassino
crente de nova cruz
ser revólver na mão.

A caneta Bic
faz crer em direitos detentos,
mas sabemos, com o tempo:
quem tem medo de direito
é direita,
dono de homem-produto
e mercado.

Mas a gente sabe:
quem tem luxo e regalo
não acorda
com o galo,
e sim, viaja
com cocaína no talo.

Mas logo, logo
arranjar farinha
(para angu e pamonha)
vai ser questão
que justiça se oponha.

Justiça:
quimera mestiça
alimentada por plano real.
Desde Portugal.

Tupiniquim
Pindorama
que tempestade tropical…

Em Copacabana
boots do twitter
fornicam
com Tio Sam
no culto dominical.

Enquanto João
dorme sob rajada.

Acorda:
medo do decreto-facada,
justiça degolada
e filho morto por escolta policial.

Enquanto Maria
dorme desempregada.
Acorda:
menos aposentada,
mais conversa afiada
e filha escrava na senzala federal.

Tupiniquim
Pindorama
mas que azia geral…
todos os dias
teu epitáfio na capa
do jornal!

Valhei-me Nossa Senhora do Oco!
Envia-me um toco
contra a corrente anti-estatal.
Salve da labareda
e da boca do lobo
a cultura nacional!

Ah!
Tupiniquim
Pindorama
que tempestade tropical…
O que te fizeram?
A assassinaram
no quintal!

 

johhny brinco

Johnny Faustino. Ator de teatro. Dramaturgo. Flerta com o audiovisual, a poesia, as artes visuais e a literatura. Desde 2019 publica na Fazia Poesia, revista online de publicações poéticas. Também é intérprete e autor no Coletivo Sem Nomes, canal do Youtube de interpretação de poesias.

Texto: Johnny Faustino
Colagem: Vitor Ussui

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